Redemption Words

Blog do Micah

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Nova York, Novembro de 2002.

Estávamos assistindo a nossa última aula teórica de Vigilância e Rastreamento antes do feriado de Ação de Graças e estava tão focado em chegar em casa e arrumar as malas para viajar para Boston que não conseguia prestar atenção. Um ano já havia se passado desde que descobri que tinha outra família e as coisas estavam bem diferentes.

Pelo menos uma vez por mês eu aparatava na casa dos meus avós, para passar o fim de semana, e Michael e Andrea sempre levavam Connor até lá para passar o maior tempo possível com os tantos primos que ganhamos. Ele já estava muito bem enturmado com Boston, Byron e Casey, que tinham idades próximas.

Não demorou muito para descobrir que minha família inteira era fascinada por esportes e nós passamos por uma verdadeira lavagem cerebral, até que finalmente eles conseguiram converter Connor e eu a dois fãs fiéis dos Boston Red Sox e New England Patriots, mas tiveram zero sucesso em nos fazer torcer pelos Celtics. Ninguém substitui os Lakers e agora sempre que tem jogo dos dois times, a casa vira um campo de batalha.

Era o segundo feriado de Ação de Graças que passaríamos lá, e dessa vez além de Evie, Michael, Andrea e Wes, também se juntariam a mesa Shannon, Dario e Georgia. Estava ansioso para chegar lá e rever todo mundo e quando ouvi o sinal tocar fui o primeiro a levantar, mas a voz grave do professor me chamou a atenção e parei com a mochila a meio caminho do ombro.

‘Não saiam ainda, tenho um aviso importante’ E todos sentaram sem contestar ‘Como todos estão cientes, esse é o ano da formatura. Aqui na Academia de Aurores de NY, para se formar, os alunos precisam fazer um trabalho, que chamamos de Projeto de Conclusão de Curso’ Ele saiu de trás da mesa e circulou pelas carteiras, distribuindo um guia de bolso ‘O objetivo do trabalho é mostrar os benefícios que a Academia pode trazer. Nesse guia vocês encontrarão todas as regras do projeto, o que podem e não podem fazer, e mais importante, o que devem e o que não devem fazer. Vocês devem se dividir em grupos de 3 ou 4 pessoas, e devem fazer o acompanhamento do projeto comigo. A apresentação deverá ser em Maio. Bom feriado para todos e boa sorte’

‘Vamos fazer juntos, certo?’ Eric perguntou enquanto saiamos da sala junto com o resto da turma e Shannon, Rachel e eu assentimos ‘Ótimo, então vamos tentar pensar em algo durante o feriado e segunda-feira a gente se reúne pra ver se alguma idéia pode ser aproveitada. Bom feriado pra vocês’

Eric se despediu e desapatarou, seguido por Rachel, ambos iam para a casa de seus pais. Voltei com Shannon às pressas para casa e já estávamos todos nos esperando de mochilas prontas. Era mais um dia de Ação de Graças na casa dos Walker.

ºººººº

O feriado não poderia ter sido melhor, mas passou rápido demais. Quando comecei a relaxar, me vi de volta a Nova York sem nenhuma idéia para o projeto da Academia. Fui para a aula com Shannon na segunda-feira tentando pensar em alguma coisa no caminho, mas sem sucesso. Eric e Rachel já estavam no refeitório tomando café quando chegamos e pelas expressões ansiosas, tinham algo sobre o projeto para apresentar.

‘Desculpa gente, mas não consegui pensar em nada, me distrai demais’ Já me desculpei enquanto sentava à mesa com eles.

‘Pela cara da Shan, ela também não pensou em nada’ Eric falou rindo ‘Somos três então’

‘Bom, para a sorte de vocês, minha família não é nada divertida e tive bastante tempo livre para pensar no projeto’ Rachel tirou uma pasta da mochila e jogou em cima da mesa ‘Não pensei em um nome ainda, mas a idéia é a seguinte: nós vamos rastrear adolescentes bruxos em reformatórios, que não tenham uma educação mágica como deveriam ter, e dar isso a eles aqui, na Academia’

‘Como exatamente faríamos isso?’ Perguntei interessado ‘Seriam só os problemáticos?’

‘A idéia é focarmos os mais problemáticos, os que julgam “caso perdido”, e reverter isso’ Rachel explicou tirando um papel de dentro da pasta e nos entregando ‘Já foi comprovado que atividades esportivas incentivam as crianças a sair das ruas e crescer na vida, então tudo que temos que fazer é provar que a Academia de Aurores pode fazer o mesmo’

‘Sabe que isso pode dar certo?’ Shannon leu rápido o papel que tinha na mão e sorriu animada ‘Quantas crianças e adolescentes bruxos devem ter espalhados por ai, em orfanatos, sem ter idéia do que realmente são?’

‘Bom, eu adorei a idéia e por mim, fazemos isso mesmo’ Eric apoiou e assentimos de imediato ‘Fechado então, vamos botar esse projeto em pratica!’

ºººººº

Depois de uma semana, onde definimos metas para o projeto, organizarmos todas as idéias e apresentamos ao nosso coordenador, recebemos sinal verde para dar continuidade a ele e começamos nossa busca por uma assistente social que pudesse ajudar na parte onde teríamos que conseguir uma autorização para trabalhar dentro de um reformatório, com adolescentes problemáticos.

A busca foi mais fácil do que pensávamos. Demos a sorte de encontrarmos Sandra, uma aluna do ultimo período de Assistência Social da NYU precisando desesperadamente de alguém que a ajudasse em um projeto complicado de localização de crianças bruxas perdidas em orfanatos trouxas, para dar a elas um lar apropriado. Ela nos contou do projeto temendo nossa reação a menção de bruxos, mas ficou aliviada ao ver que tinha contado para as pessoas certas. Unimos forças e enquanto ela nos ajudaria nas negociações com o reformatório, nós a ajudaríamos a identificar as crianças e achar famílias para elas.

Havíamos escolhido o reformatório bruxo Sunnyvale para trabalhar. Foi preciso uma conversa demorada com o diretor, sempre com a ajuda de Sandra, mas ele nos autorizou a fazer uma experiência com apenas 3 garotos. Se em duas semanas o programa desse resultado, ele nos autorizaria a trabalhar com quantas quiséssemos. Não era uma tarefa fácil, selecionar apenas 3 adolescentes dentre as centenas que moravam no reformatório, e isso estava tirando meu sono. Precisávamos entregar os nomes no dia seguinte e continuava sentado no chão do quarto, com fichas espalhadas ao meu redor, sem ter chegado a uma conclusão.

‘Micah?’ Evie acordou quando derrubei umas das pastas e fez barulho ‘Por que ainda está acordado? São 2 da manhã’

‘Preciso escolher 3 garotos e não consigo me decidir, não consigo dormir’

‘Escolha qualquer um, faz diferença?’ Ela bocejou e deitou outra vez ‘Só venha dormir logo e apague esse abajur’

‘Claro que faz diferença! Não posso simplesmente sortear um, esses garotos precisam de ajuda e não posso brincar com coisa seria!’ Me exaltei um pouco, mas logo me arrependi ‘Desculpe, estou cansada, mas já vou dormir’

‘O que aconteceu?’ Ela levantou outra vez, e seu tom de voz era de quando não ia desistir enquanto eu não falasse ‘Desde que começaram a trabalhar nesse projeto, você está estranho. Por que é tão importante escolher os garotos certos?’

‘Você não entende o que esses garotos e garotas passam lá... Se eles não tiverem uma válvula de escape, algo melhor com que contar, quando completarem a maioridade e saírem...’

‘Me explique então, se eu não entendo. O que eles passam lá? Como sabe tanto sobre isso?’ Ela fez sinal para me sentar ao lado dela na cama e deixei as pastas de lado, indo até ela.

‘Eu sei o que acontece porque já estive em um reformatório’ Falei de cabeça baixa e mesmo sem estar olhando pro seu rosto, sabia que ela tinha reagido espantada, pois imediatamente passou a mão em meu pescoço ‘Foi logo depois que minha avó morreu’

‘Por que você foi mandado pra um reformatório? Você já não estudava na escola de magia quando ela morreu?’

‘Sim, mas eu não reagi muito bem quando soube da morte dela, causei alguns problemas quando soube que seria mandado para um orfanato com Connor’ Continuava de cabeça baixa enquanto falava ‘Não aceitava a morte dela, me rebelei contra o único tio ainda vivo porque ele não quis nos acolher e fiz muita besteira’

‘Que tipo de problemas você pode ter causado sozinho, para te mandarem pra lá?’ Ela perguntou já sabendo parte da resposta.

‘Não estava sozinho, Josh ficou do meu lado o tempo todo, ajudando nos estragos. O mais leve foram algumas pichações no muro do Ministério da Magia da Califórnia, mas foi a gota d’água, pois fomos presos por isso’ Ri um pouco, mas mais de nervoso do que de divertimento ‘Josh, como sempre, escapou da punição, mas eu não tinha mais quem me defendesse e fui mandado para um reformatório bruxo, Coyote Falls. Aquele lugar era uma prisão, horrível. Passei um ano lá, e foi o pior ano da minha vida’

‘O que acontece lá?’ Evie agora segurava minhas mãos ‘O que fizeram com você?’

‘Tudo de ruim que você possa imaginar, não ficávamos um único dia sem levar um surra dos guardas. Se você não dá um motivo, eles arrumam um. Tinha um professor que ensinava feitiços, que nos fazia esticar os braços para ele bater com uma regra de madeira pesada. A marca não saia por dias’ Olhei para ela pela primeira vez desde que comecei a falar ‘O que fazem com as pessoas nesses lugares é desumano. Até onde sei, esses garotos podem sair de lá para serem os próximos Voldemortes, motivos não lhe faltam. Precisamos dar a eles outro motivo pelo qual agüentar o tempo que precisam ficar lá. Elas precisam saber que não existe só o caminho que é ensinado na base da força lá dentro, aqui fora. Eu tive a sorte de sair de lá e ter amigos com quem contar, mas a maioria não tem ninguém’

‘Por que você nunca contou que já esteve num lugar como esse?’

‘Não é um assunto que gosto de trazer a tona’ Forcei um sorriso e ela me beijou, encostando a cabeça em meu ombro ‘Não se preocupe, nunca sofri nenhum tipo de abuso, além de surras mesmo. Continuo virgem nesse aspecto, e vou morrer assim’

‘Não tem graça’

‘Preciso rir dessas coisas, meu amor. Humor foi o que me fez sobreviver a isso tudo, é minha válvula de escape’ Beijei ela outra vez e levantei da cama ‘Preciso escolher os garotos certos, o programa precisa dar resultado’

‘Bom, então me deixe ajudar, duas cabeças pensam melhor que uma’ Ela levantou da cama e estendi a mão.

Passamos a madrugada em claro, lendo e relendo as fichas que foram entregues a mim, e o dia já começava a clarear quando finalmente tínhamos decidido por três garotos para darmos inicio ao trabalho. Os três tinham 15 anos, nenhuma família a quem recorrer, e eram constantemente enviados para a solitária por tentarem fugir. Eram os garotos perfeitos para trabalhar, pois eu tinha certeza que obteríamos os resultados esperados. O que eu pudesse fazer para ajudar esses garotos, eu faria.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

‘Ah, adoro festas de casamento’ Evie disse enquanto caminhava de mãos dadas com Micah no meio da rua ‘São sempre animadas e lindas’

‘Eu gosto mais do Buffet, é sempre de primeira’ Ele comentou e ela riu

‘Por que não estou surpresa?’ Revirou os olhos ‘Estou cansada, meus pés estão me matando’

‘Você precisa de uma massagem. Não quer ir para a casa da Nikki? Posso resolver isso’

‘Nada disso, sei muito bem o que você quer’ Ele riu ‘Nikki não ia achar nada engraçado, ela me deu a chave para emergências. E além do mais, estou tão cansada que não consigo fazer mais nada, só dormir’

‘Você não precisa fazer nada, é só ficar quietinha descansando que eu cuido de tudo’ Disse com um sorriso malicioso e ela tapou seu rosto com a mão

‘Não, desiste’ Disse rindo ‘E você prometeu me ajudar a juntar minhas coisas na casa do meu pai. Semana que vem voltamos para a escola e ainda não fiz isso, temos que ir lá agora’

Micah ainda tentou argumentar mais um pouco, mas não convenceu e não viu alternativa senão seguir até a casa onde o pai dela morava. Sabia que por mais que não lhe agradasse entrar na casa que pertencia a ele, não podia deixar que ela fosse sozinha. Caminharam nas ruas desertas pelo horário e chegaram a casa. Evie abria as portas com grampos e sem fazer barulho. Não queria acordar seu pai, pretendia esvaziar o quarto e sair sem que ele notasse.

‘Como aprendeu a fazer isso?’ Micah perguntou surpreso, lembrando de Shannon

‘Às vezes meu pai esquecia que estava de castigo trancada no quarto há mais de um dia, tive que aprender a sair sozinha’ Respondeu dando de ombros ‘Vem Hansel, entra’

O labrador que pertencia a ela pulava feliz por rever a dona e ela o deixou entrar no quarto. Começaram a recolher as roupas e objetos pessoais e amontoá-los de qualquer jeito nos malões. Tinham pressa de ir embora e já haviam juntado quase tudo quando a porta do quarto abriu. Micah caminhou para perto dela assim que viu o homem de pé na porta. Evie congelou.

‘Sabia que viria mais cedo ou mais tarde. Por isso coloquei um feitiço de alarme na porta, queria presenciar a fuga’ Disse sarcástico, olhando para Micah com ar de desdém ‘E o que esse garoto está fazendo na minha casa?’

‘Micah é meu namorado e veio me ajudar a pegar minhas coisas’ Respondeu o encarando. Não ia abaixar a cabeça dessa vez

‘Você pode ir para onde quiser, mas não vai levar nada de dentro da minha casa’ Deu um passo à frente e Micah apertou a varinha com a mão ‘O que pensa que vai fazer com essa varinha, moleque? Vai me enfrentar?’ Riu

‘Não faça nada, Micah’ Evie o alertou, sem tirar os olhos do pai

‘Isso, Micah. Seja inteligente e não faça nada que possa se arrepender depois’ O homem ia se aproximando devagar, e em um movimento rápido, agarrou Evie pelo braço com força e a puxou para junto de si

‘Solta ela!’ Micah ignorou o que ela pediu e partiu para cima dele, ao mesmo tempo que o cachorro corria para cima de Josef, rosnando.

Ele abocanhou o braço do homem e a mordida profunda fez Josef largar a filha, a empurrando para o lado. Micah a amparou antes que caísse e um clarão branco iluminou o quarto. O cachorro estava caído no chão, com um enorme X feito de sangue cortando todo seu corpo. Evie gritou ao ver a poça que já se formava em volta dele e duas novas vozes invadiram o quarto. Dimitri também gritou quando viu o cachorro no chão e Evelyn, sua mãe, olhava para a cena estarrecida.

‘O que aconteceu aqui?’ Ela olhava do cachorro para os garotos e o marido, perdida

‘Hansel, late, por favor!’ Dimitri estava ajoelhado ao lado do cachorro, chorando. Ele já quase não respirava.

‘Seu louco!’ Evie berrou com o pai, sendo segurada por Micah ‘Você matou o meu cachorro! O que ele fez a você?’

‘Josef, por que matou o cachorro?’ A mulher se chocou

‘Porque ele é um maníaco assassino! Hansel só tentou me defender de mais um surto dele!’ Ela continuava berrando, as lágrimas não parando de cair

‘Cale a boca! Não fale comigo nesse tom!’ Josef berrou de volta, erguendo a mão

‘Não se atreva a encostar nela!’ Micah sacou a varinha e a encostou em seu pescoço ‘Sei quem você é, Accolon’ E disse a última palavra em voz baixa

O homem recuou surpreso e Micah aproveitou o segundo de guarda baixa para abraçar Evie e desaparatar. Caíram na sala da mansão Stanislav e o estampido alto atraiu a atenção de Johann.

‘Hansel! Temos que levá-lo a um veterinário!’ Evie estava agitada e chorava muito

‘Evie, não há mais nada que a gente possa fazer’ Micah agarrou seus pulsos e fez com que ela o encarasse ‘O feitiço foi muito forte pra ele, sinto muito’

‘O que aconteceu? Por que Evie está chorando?’ Johann perguntou alarmado

‘Pegue uma água pra ela’ Micah respondeu o encarando, sério ‘Eu cuido disso’

Johann assentiu com a cabeça e conjurou um copo d’água, entregando a ela. Evie tremia muito e mesmo a contragosto ele os deixou sozinhos. Micah fez com que ela sentasse no sofá e esperou até que se acalmasse. Sabia que Evie era muito fechada e não falava sobre sua vida com muita facilidade e ele entendia isso, também era muito reservado. Mas mesmo já sabendo, queria a ouvir dizer.

‘Meu pai é um homem muito ruim’ Ela falou de repente e ele sentou no sofá, calado ‘Quando ele fica nervoso, não mede a força que tem’

‘Quantos anos você tinha quando começou?’ Micah agora sabia que era seguro perguntar qualquer coisa

‘Depois que minha mãe morreu e viemos morar com ele. Ele...’ Ela fez uma pausa antes de continuar ‘Ele sempre descontava suas frustrações em mim. Acho que sempre que olha pra mim, vê minha mãe. Ele nunca se conformou por ela ter largado ele’

Evie fez outra pausa, mais longa dessa vez. Era como se ela estivesse se preparando para ouvir o que estava para contar. Micah não ousou a interromper, deixou que ela usasse o tempo que precisasse. Eles estavam sentados de frente um para o outro, um em cada ponta do sofá, e ele ouviu atentamente ela contar todas as coisas ruins que o pai faz com ela e os irmãos, mas com ela em especial, desde que eram crianças. Ele a ouviu falar por mais de uma hora, contando historias de quando era pequena, e ia ficando cada vez mais horrorizado. Na cabeça de Micah era impossível de entender como que um pai pode machucar sua própria filha. Não era normal um pai descontar nos filhos sua raiva por ter sido abandonado pela mãe deles.

‘A última vez que ele me machucou, se descontrolou e quebrou meu braço. Foi a gota d’água pra mim’ Sua voz ia morrendo aos poucos ‘Meu avô fazia a mesma coisa com ele, e ele acabou se tornando aquele que sempre detestou. E se eu for como ele? Não quero que meus filhos tenham medo de mim, não quero virar um monstro para eles!’

‘Evie, você não é como o seu pai. As pessoas nem sempre puxam os pais, e isso às vezes é algo bom’

‘Como pode ter tanta certeza?’

‘Porque se eu fosse como os meus, seria um hippie maluco que abandonaria nossos filhos depois que eles nascessem. E eu nunca ia abandonar você e um bebê’

‘Nossos filhos?’ Evie riu da naturalidade com que ele falava ‘O que te faz pensar que vou ter um filho com você?’

‘Porque sei que um dia você vai ceder e se casar comigo’ Ele sorriu ao falar, aquele sorriso que ela tanto gostava

‘Confia tanto assim em si mesmo? Porque você parece muito seguro disso’ Ela provocou

‘Pode estar certa que sim’ Micah falou sério dessa vez e se moveu no sofá, deixando espaço para ela

Evie deitou ao lado dele e ele a abraçou. Naquele momento, ele sentiu que tudo que ela queria era se sentir protegida. E ele prometeu a si mesmo que não deixaria ninguém machucá-la outra vez.

ººº

Johann ouvia atentamente cada palavra da sobrinha do lado de fora, e sua expressão não era de surpresa, mas de ódio. Levantou em silêncio e procurou um cômodo fechado, pegando um telefone.

‘Sofia?’ Disse quando a irmã atendeu ‘Aconteceu. Ela falou’ Ele fitava um porta-retrato na mesa enquanto falava e alisou a foto ‘É a hora de retribuir tudo que Eva fez por nós dois’
Evie havia ido embora há alguns dias e estava trabalhando no MGM Studios, no show do Indiana Jones, quando ouvi algumas vozes conhecidas por perto. Dei uma olhada em volta e não foi difícil encontrar seus donos: embolados juntos a um enorme grupo de garotos estavam Ty, Annia e Griffon, completamente perdidos no meio daquela multidão que tentava encontrar a fila para ingressar no anfiteatro. Catei um chicote de outro cast member e me aproximei deles.

‘Cuidado com o traseiro, cowboy!’ Falei alto acertando o chicote no chão, a centímetros do Ty. Ele saltou assustado, mas logo sorriu quando me viu

‘Micah!’ Nos cumprimentamos e ele tomou o chicote da minha mão enquanto abraçava Annia e falava com Griff ‘O que está fazendo aqui?’

‘Trabalhando. Junto dinheiro e ainda me divirto’ Peguei o chicote da mão dele quando ele olhou maroto para as costas de um dos primos

‘Que legal, não sabia que ia trabalhar aqui. Chegamos ontem, vamos ficar uma semana’

‘Ah, ótimo! Amanha é meu dia de folga, vou ao Busch Gardens com meu irmão Wes, vocês podem ir conosco’

‘Está fechado!’ Ty olhou em volta daquela multidão e coçou a cabeça ‘Já que você trabalha aqui, como a gente faz pra entrar? Não conseguimos nem ver as cordas da fila!’

‘Quantos vocês são?’ Ele começou a contar dedos demais para responder e ri ‘Ok, esquece. Venham por aqui, vou colocar vocês lá dentro mais rápido’

‘Opa! Vamos, cambada, sigam o nosso guia!’ Ty pulou em cima de mim animado e assobiou alto. Um monte de primo levantou a mão, ate me assustei com a quantidade

Deixei-os na fila do fastpass, que estava consideradamente menor, e voltei para o lado de fora para tentar organizar a bagunça. Não os vi mais durante o resto do dia.

ººº

‘257 elefantes incomodam muita gente’ Griff, Wes, Ty e Sophia cantavam ‘258 elefantes incomodam, incomodam, incomodam, incomodam, incomodam...’

‘Ok, Chega!’ Annia e Mary falaram ao mesmo tempo, e agradecemos em silencio

Estávamos na fila da Montu, uma das montanhas-russas do Busch Gardens, há horas. E para passar o tempo, eles resolveram cantar. Os primeiros 50 elefantes foram divertidos, mas depois começou a incomodar, de fato. Sentei na grade que separava as filas e Ty sentou do meu lado. Annia encostou na grade de frente pra gente, e depois de morder os lábios um bom tempo, puxou conversa.

‘E ai, Micah? Como estão sendo as férias?’ Annia perguntou fingindo descontração. Logo entendi o que ela queria, mas resolvi brincar um pouco

‘Ah estão ótimas! Mesmo trabalhando aqui, estou me divertindo’

‘Legal. Muito legal. E tem alguma novidade?’ Insistiu. Ty disfarçou uma risada e ela o olhou atravessado

‘Acho que não... Ah, não, tem uma sim’ Ela se animou depressa ‘Meus pais vão se mudar pra Londres’

‘Que demais!’ Ty respondeu animado ‘Vai ficar mais perto da gente agora’

‘É, demais mesmo’ Annia disse sem entusiasmo ‘Tem mais alguma novidade?’

‘Claro, Wes vai estudar com a gente em Durmstrang agora’ Bati no ombro dele e Ty se animou outra vez. Annia fez uma cara desanimada.

‘Legal, mais um aluno!’ Fingiu empolgação ‘Mais alguma coisa?’

‘Ah por Merlin, Annia!’ Ty não agüentou e explodiu ‘Por que não pergunta sobre a Evie de uma vez por todas?’

‘Eu não quero perguntar nada dela!’ Respondeu ofendida e começamos a rir, o que a irritou ‘É verdade!’

‘Ah, claro, então toda a sua especulação no trailer foi fingimento?’ E Annia abriu a boca para responder, mas levantei a mão antes

‘Parem, não vão começar a discutir. Sim, Annia. Evie e eu estamos namorando. Estava com ela aqui até poucos dias atrás e agora deve estar em Miami com a família. Matou a curiosidade?’ Ri

‘Era o Ty que queria saber...’ Deu de ombros, mas vi um sorriso depois. Ty revirou os olhos

‘Opa, é a nossa vez!’ Griffon chamou nossa atenção e percebemos que já estávamos na entrada da montanha-russa.

A Montu era enorme e completamente invertida. Nossos pés ficavam pendurados no ar enquanto o carrinho deslizava pelos trilhos a mais de 96 km/h. Sentamos nos bancos da última fileira eu, Ty, Wes e Griff, mas Annia não quis experimentá-los e foi no banco da nossa frente com John, Mary e Declan. Cody, Amber, Sophia e Chloe foram à frente deles. E assim que o carrinho começou a se mover, a gritaria das meninas começou. Eu mal conseguia gritar tamanha era a pressão do vento. Griff e Wes cantavam uma musica maluca enquanto o carrinho virava bruscamente nos trilhos e em determinado looping, vi a sombra de uma sandália passar voando do meu lado e cair nas redes de proteção. O carrinho parou três minutos depois e as travas nem haviam sido soltas e já sabíamos quem era o dono da sandália.

‘Meu sapato!’ Ouvimos Annia rosnar no banco da frente ‘Papai me deu eles de presente antes de vir para cá!’

‘Eu falei pra você tirá-los’ John ponderou e ela deve ter feito uma cara feia, pois ele se calou

‘Perdeu os dois pés?’ Perguntei segurando a risada

‘Não, só o direito’

‘Saci!’ Ty debochou e não conseguimos mais prender a risada ‘Brincadeira, Annia’ Acrescentou depois

Descemos do carrinho e depois de muita negociação com o funcionário da montanha-russa, chegamos à conclusão que Annia teria que comprar um par de chinelos na lojinha do brinquedo, pois ele não iria entrar na área de proteção para resgatar o pé perdido. Passamos lá para ela comprá-las e fomos direto almoçar. As meninas comeram hambúrgueres pequenos, mas cada um de nós, garotos, comemos uma costeleta de porco gigantesca.

Descansamos do almoço em um safári tranqüilo e saímos dele direto para a Kumba. As meninas diziam que era muito cedo para virar de cabeça pra baixo, mas insistimos que não tinha problema e entramos na fila. Chegamos rápido aos carrinhos e sentei na primeira fila com os três novamente. O carrinho começou a se mover devagar e Wes me cutucou.

‘Acho que a costeleta não caiu bem’ Disse apontando pro estomago por cima da trava

‘Cara, agora?’ Olhei pra ele assustado, e depois para o operador da montanha-russa ‘Melhor você descer!’

‘Tarde demais!’ Wes olhou pra frente pálido e o carrinho já estava no pico

Era realmente tarde. Antes que pudéssemos dizer qualquer outra coisa, o carrinho já mergulhava naquela descida íngreme e caia direto em um looping. Enquanto o carrinho voava pelos trilhos no meio da mata, não ouvia um único grito de Wes. Nas poucas vezes que consegui olhar para ele, estava com a aparência de um fantasma. Quando ela parou e soltaram as travas, ele disparou para a lixeira na saída e mergulhou a cabeça dentro dela.

‘Isso, cowboy’ Dava tapinhas nas costas dele, enquanto segurava sua cabeça para que não caísse no lixo ‘Bota pra fora, desabafa’

‘Cala a boca’ Sua voz saiu embargada pelo vomito e ri

‘Costeleta de porco?’ Ty perguntou compreendendo e balancei a cabeça ‘Essa Kumba é pesada, Amber saiu trocando as pernas’ E vi a prima dele saindo escorada por Cody, parecendo tonta

‘Vamos aonde agora?’ Annia perguntou parecendo feliz por não ter sido o alvo da vez

‘Bom, com Wes e Amber passando mal, e Annia perdendo os sapatos por ai, é melhor irmos para as corredeiras’

‘Cambada, pros botes!’ Ty fez sinal com a mão e os outros nos seguiram

Wes limpou o rosto com um feitiço rápido e fui escorando ele até o outro lado do parque, onde ficava o Congo River Rapids. Lotamos um dos grandes botes amarelos e mais que depressa as primas do Ty, junto com Annia, puxaram capas de chuva das bolsas e se protegeram. Vaiamos todas elas e começamos a passar a mão na água para respingar em todo mundo, mas nem teria sido necessário. Em várias partes do percurso os visitantes podem espirrar água nos botes com pistolas presas em pontos estratégicos. Mesmo com a capa elas se molharam bastante, mas ninguém se molhou mais que o Griff. Ele fazia tanta presepada no bote saltando feito um canguru que conseguiu chegar na reta final sem um respingo, mas se distraiu enquanto de gabava e não percebeu que o bote ia atravessar uma queda d’água. Ele estava de braços erguidos comemorando bem na hora, e continuou nessa posição vendo a água escorrer por todo o corpo enquanto nos dobrávamos de rir.

Depois que saímos do bote estávamos todos ensopados e como já era fim de tarde e o tempo começava a virar, achamos melhor encerrar as atividades do dia. Nos secamos com as toalhas que as meninas trouxeram e ficamos passeando pelo parque mais algum tempo, conversando e tirando fotos, antes de pegar a estrada de volta a Orlando. Despedi-me de Griff, Annia, Ty e seus muitos primos e peguei o carro no estacionamento, dirigindo devagar até Daytona Beach ouvindo Wes cantar musica country do meu lado e me fazendo rir. É, não tinha do que reclamar das férias.
2 de Setembro de 1998

‘O Sr. Diperma está em uma reunião, mas irá lhe atender em 15 minutos’

‘Obrigado Anita, vou esperá-lo aqui’

A secretária já de idade sorriu gentil e fechou a porta do escritório, deixando Micah sozinho na sala do diretor. Ele largou a mochila no chão e sentou-se no sofá, apoiando a cabeça no encosto e fechando os olhos, cansado.

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Dois meses antes

‘Vamos Ryan, acorde!’ Shannon dava socos no peito do garoto, chorando ‘Ande seu idiota, levante!’

‘Pare Shan, ele-’ Sean pôs as mãos no ombro da amiga, mas ela o empurrou

‘NÃO. Não diga isso!’

‘Não há nada que você possa fazer, Shan’ Micah segurou suas mãos, forçando-a a soltar Ryan ‘Ele está morto’

A garota tentou se soltar, mas Micah a puxou para junto dele e a abraçou, deixando que ela chorasse em seu ombro. Gabriel e Evan estavam sentados na beira do rio chorando em desespero e Sean confortava Connor, enquanto Josh era o único de pé encarando o corpo sem vida de Ryan na terra úmida que beirava Fall Creek Lake.

‘O que vamos fazer agora?’ A voz de Micah estava vacilante quando ele falou

‘Como assim o que vamos fazer?’ Evan tremia, mas tentava manter a voz firme ‘Vamos levá-lo de volta’

‘Levá-lo de volta? O que você acha que vai acontecer se chegarmos com um corpo no meio da cidade?’ Josh tinha a voz alterada ‘Acha que vão nos confortar pela perda, ou nos acusar de assassinato?’

‘Foi um acidente’ Gabriel encarou Josh espantado ‘Não é culpa de ninguém, não podem nos acusar de nada’

‘Acorde Gabriel! Não sei como são as coisas onde você mora, mas não somos vistos como os modelos de garotos aqui em Los Angeles’ Josh agora achava graça do que estava falando ‘Se procurarmos a policia com um garoto morto, vamos presos no mesmo instante’

‘Gabriel tem razão, foi um acidente’ Micah agora estava de pé e de frente para o amigo ‘Vamos voltar com Ryan e contar a policia o que aconteceu, não vão nos culpar’

‘Não, vamos deixá-lo aqui e a policia que venha buscar o corpo!’ Todos encararam Josh perplexos, mas ele continuou ‘Não vou voltar com ele’

‘Fique aí então e volte nadando. Não cabe a você decidir isso, Josh. Vamos fazer o que a maioria achar melhor’ Micah abaixou ao lado de Ryan e olhou para os amigos ‘Então, o que querem fazer?’
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A viagem de volta à cidade foi silenciosa. Diferente de quando eles desciam o rio, ninguém conversava, ninguém ria, ninguém sequer se encarava. Cada um se ocupou com um remo e logo alcançaram a margem de onde haviam saído. Mesmo contra sua vontade, Josh seguiu com os demais até a casa de Ryan, onde Micah se encarregou de contar à sua mãe o que havia acontecido. A mulher entrou em desespero, mas Shannon a acalmou levando-a com eles até a delegacia trouxa mais próxima e lá informaram que o corpo de Ryan estava no barco amarrado à beira do lago Fall Creek.

Fogos em comemoração ao 4 de Julho explodiam por toda a cidade enquanto uma viatura da polícia saia em disparada para o local indicado. Connor, seu pai adotivo e a mãe de Ryan foram com eles, mas os outros ficaram retidos para interrogatório. Um delegado aparentando ter 40 anos, cabelos pouco grisalhos e expressão calma entrou na sala e encarou cada um dos 6 garotos antes de sentar. Todos contaram a mesma versão da história até onde começou a brincadeira de verdade ou desafio, e então as coisas começaram a se contradizer.

‘Então ele me provocou, insultou a mim e aos meus amigos com coisas que prefiro nem repetir’ Josh estava calmo e relatava sua parte ao delegado ‘Eu me alterei e queria brigar com ele, não nego, mas não o empurrei na água’

‘Então quem o empurrou?’ O delegado começava a suspeitar de incompatibilidade de informações, mas deixou que os garotos prosseguissem

‘Micah’ Josh foi categórico ‘A idéia de levá-lo ao rio foi dele e de empurrá-lo na água também. Foi ele quem empurrou Ryan’

‘Empurrei-o porquê você estava a ponto de matá-lo enforcado!’ Micah pôs-se de pé e apontou para Josh, furioso

‘Sente-se senhor Wade’ o delegado manteve a voz calma e Micah obedeceu ‘Quer nos contar a sua versão?’

‘Ryan conseguiu tirar a todos nós do sério e Josh perdeu o controle quando ele mencionou seu pai’

‘Ele passou dos limites com o que disse sobre meu pai!’ Josh esbravejou

‘Quero somente o senhor Wade contando a história agora’ Josh encarou a mesa quando recebeu um olhar severo do delegado ‘Por favor, prossiga’

‘Obrigado. Como dizia, Josh perdeu a cabeça com os insultos de Ryan e partiu para cima dele. No mesmo instante eu interferi na briga, tentei apartá-los, mas Josh estava com muita raiva e apertava seu pescoço’

‘Eu não tinha a intenção de matá-lo, queria apenas que ele calasse a boca!’ Josh tornou a interromper ‘Não tente fazer parecer que eu queria vê-lo morto, seu babaca. A idéia toda foi sua para começo de conversa, e você também estava de cabeça quente quando o empurrou na água!’

‘Eu desisti da brincadeira!’ Micah respondeu no mesmo tom ‘Falei que não queria mais fazer isso e foi você quem disse que eu era um fraco por isso!’

‘Já chega!’ O delegado perdeu a paciência e levantou da cadeira ‘Senhor Pace, saia da sala. Saiam todos. Quero somente o senhor Wade aqui. Vou ouvi-los um a um para não haver interrupções’

Todos os garotos deixaram a sala e aguardaram sentados na sala do delegado. O depoimento de Micah terminou depressa e um a um, o delegado foi chamando-os. Josh foi o ultimo e demorou mais do que o esperado. Todos estavam apreensivos quando ele finalmente saiu da sala e encarou Micah com um olhar cheio de raiva.

‘Se eu for preso por sua causa, você vai pagar muito caro’

‘Como pode falar isso?’ Micah levantou para enfrentar o amigo no mesmo nível ‘Eu contei a verdade, foi você quem distorceu as coisas!’

‘Eu estava tentando nos livrar do reformatório! Mas se quer saber, pouco me importa agora o que vai acontecer com você. Contei toda a verdade ao delegado, boa sorte!’

‘O que foi que você aprontou dessa vez??’ Micah agarrou Josh pela gola da camisa e o atirou contra a porta

‘Estão todos de prova que ele me atacou sem razão, não é?’ Josh falou alto, atraindo a atenção de alguns policias que circulavam no corredor ‘Depois ele vai dizer que não tinha a intenção de jogar o garoto na água e vocês vão acreditar nele’

‘Senhor Wade, por favor, entre outra vez’ o delegado apareceu na porta e encarou Micah sério

‘Escute bem Josh, porque essa pode ser a ultima vez que vai ouvir alguma coisa de mim’ Micah se aproximou dele e falou baixo, de maneira que somente ele pudesse ouvir ‘Você e eu, acabou. Nossa amizade termina aqui. Independente do que me acontecer. Vou fazer você pagar por isso, vou fazê-lo se arrepender por se meter comigo’

Micah soltou Josh e voltou à sala onde tinha prestado depoimento. Aquela noite de 4 de Julho de 1998 foi a ultima vez que eles se falaram durante um longo tempo.


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‘Então Sr. Wade, pelo que entendi de sua carta, está solicitando sua transferência de nossa escola?’

O diretor Diperma havia retornado da reunião e encarava Micah preocupado, segurando um papel nas mãos. Micah estava sentado de frente para ele e mantinha uma posição irredutível.

‘Isso mesmo, senhor’ O garoto respondeu ‘Quero ser transferido para o Instituto Durmstrang’

‘Perdoe-me a intromissão, mas por que a decisão repentina? Faltam apenas dois anos para a conclusão de seus estudos, vai deixar seus amigos aqui para estudar em uma escola tão longe? Poderia transferi-lo sem problemas para a escola do Alabama, Tenessee ou Iowa, basta escolher uma’

‘Desculpe senhor, mas não quero continuar na América’ Micah encarava o diretor decidido ‘Preciso me afastar, e como sei falar búlgaro, o Instituto Durmstrang me parece uma boa opção’

‘Espero que isso não tenha nada relacionado à morte de Ryan Merric’ Quando Micah não respondeu, ele continuou ‘Bom, se é mesmo o que quer e se tem certeza de que está tomando a decisão certa, não vejo problemas em sua transferência. Já entrei em contato com o novo diretor da escola, o senhor Igor Ivanovich, e ele disse que será bem vindo em sua escola’

‘Obrigado senhor Diperma’ Micah levantou e estendeu a mão para o diretor

‘Não agradeça, apenas não justifique seus atos pelos motivos errados. O diretor Ivanovich o aguarda amanhã na escola. Pode ir até o alojamento caso tenha deixado algo para trás e partir hoje mesmo para a Bulgária se preferir. Espero que encontre o que procura por lá, só lamento perder um de meus melhores alunos’

‘Tenho certeza que irei encontrar’

‘Boa sorte, Micah’

Micah agradeceu com um aceno e fechou a porta do escritório. Olhando pela última vez para os corredores onde alunos passavam apressados para acomodas as bagagens e rever os amigos, ele deixou o prédio da escola. E naquele momento ele desejou nunca mais tornar a vê-lo.