‘Ah, adoro festas de casamento’ Evie disse enquanto caminhava de mãos dadas com Micah no meio da rua ‘São sempre animadas e lindas’
‘Eu gosto mais do Buffet, é sempre de primeira’ Ele comentou e ela riu
‘Por que não estou surpresa?’ Revirou os olhos ‘Estou cansada, meus pés estão me matando’
‘Você precisa de uma massagem. Não quer ir para a casa da Nikki? Posso resolver isso’
‘Nada disso, sei muito bem o que você quer’ Ele riu ‘Nikki não ia achar nada engraçado, ela me deu a chave para emergências. E além do mais, estou tão cansada que não consigo fazer mais nada, só dormir’
‘Você não precisa fazer nada, é só ficar quietinha descansando que eu cuido de tudo’ Disse com um sorriso malicioso e ela tapou seu rosto com a mão
‘Não, desiste’ Disse rindo ‘E você prometeu me ajudar a juntar minhas coisas na casa do meu pai. Semana que vem voltamos para a escola e ainda não fiz isso, temos que ir lá agora’
Micah ainda tentou argumentar mais um pouco, mas não convenceu e não viu alternativa senão seguir até a casa onde o pai dela morava. Sabia que por mais que não lhe agradasse entrar na casa que pertencia a ele, não podia deixar que ela fosse sozinha. Caminharam nas ruas desertas pelo horário e chegaram a casa. Evie abria as portas com grampos e sem fazer barulho. Não queria acordar seu pai, pretendia esvaziar o quarto e sair sem que ele notasse.
‘Como aprendeu a fazer isso?’ Micah perguntou surpreso, lembrando de Shannon
‘Às vezes meu pai esquecia que estava de castigo trancada no quarto há mais de um dia, tive que aprender a sair sozinha’ Respondeu dando de ombros ‘Vem Hansel, entra’
O labrador que pertencia a ela pulava feliz por rever a dona e ela o deixou entrar no quarto. Começaram a recolher as roupas e objetos pessoais e amontoá-los de qualquer jeito nos malões. Tinham pressa de ir embora e já haviam juntado quase tudo quando a porta do quarto abriu. Micah caminhou para perto dela assim que viu o homem de pé na porta. Evie congelou.
‘Sabia que viria mais cedo ou mais tarde. Por isso coloquei um feitiço de alarme na porta, queria presenciar a fuga’ Disse sarcástico, olhando para Micah com ar de desdém ‘E o que esse garoto está fazendo na minha casa?’
‘Micah é meu namorado e veio me ajudar a pegar minhas coisas’ Respondeu o encarando. Não ia abaixar a cabeça dessa vez
‘Você pode ir para onde quiser, mas não vai levar nada de dentro da minha casa’ Deu um passo à frente e Micah apertou a varinha com a mão ‘O que pensa que vai fazer com essa varinha, moleque? Vai me enfrentar?’ Riu
‘Não faça nada, Micah’ Evie o alertou, sem tirar os olhos do pai
‘Isso, Micah. Seja inteligente e não faça nada que possa se arrepender depois’ O homem ia se aproximando devagar, e em um movimento rápido, agarrou Evie pelo braço com força e a puxou para junto de si
‘Solta ela!’ Micah ignorou o que ela pediu e partiu para cima dele, ao mesmo tempo que o cachorro corria para cima de Josef, rosnando.
Ele abocanhou o braço do homem e a mordida profunda fez Josef largar a filha, a empurrando para o lado. Micah a amparou antes que caísse e um clarão branco iluminou o quarto. O cachorro estava caído no chão, com um enorme X feito de sangue cortando todo seu corpo. Evie gritou ao ver a poça que já se formava em volta dele e duas novas vozes invadiram o quarto. Dimitri também gritou quando viu o cachorro no chão e Evelyn, sua mãe, olhava para a cena estarrecida.
‘O que aconteceu aqui?’ Ela olhava do cachorro para os garotos e o marido, perdida
‘Hansel, late, por favor!’ Dimitri estava ajoelhado ao lado do cachorro, chorando. Ele já quase não respirava.
‘Seu louco!’ Evie berrou com o pai, sendo segurada por Micah ‘Você matou o meu cachorro! O que ele fez a você?’
‘Josef, por que matou o cachorro?’ A mulher se chocou
‘Porque ele é um maníaco assassino! Hansel só tentou me defender de mais um surto dele!’ Ela continuava berrando, as lágrimas não parando de cair
‘Cale a boca! Não fale comigo nesse tom!’ Josef berrou de volta, erguendo a mão
‘Não se atreva a encostar nela!’ Micah sacou a varinha e a encostou em seu pescoço ‘Sei quem você é, Accolon’ E disse a última palavra em voz baixa
O homem recuou surpreso e Micah aproveitou o segundo de guarda baixa para abraçar Evie e desaparatar. Caíram na sala da mansão Stanislav e o estampido alto atraiu a atenção de Johann.
‘Hansel! Temos que levá-lo a um veterinário!’ Evie estava agitada e chorava muito
‘Evie, não há mais nada que a gente possa fazer’ Micah agarrou seus pulsos e fez com que ela o encarasse ‘O feitiço foi muito forte pra ele, sinto muito’
‘O que aconteceu? Por que Evie está chorando?’ Johann perguntou alarmado
‘Pegue uma água pra ela’ Micah respondeu o encarando, sério ‘Eu cuido disso’
Johann assentiu com a cabeça e conjurou um copo d’água, entregando a ela. Evie tremia muito e mesmo a contragosto ele os deixou sozinhos. Micah fez com que ela sentasse no sofá e esperou até que se acalmasse. Sabia que Evie era muito fechada e não falava sobre sua vida com muita facilidade e ele entendia isso, também era muito reservado. Mas mesmo já sabendo, queria a ouvir dizer.
‘Meu pai é um homem muito ruim’ Ela falou de repente e ele sentou no sofá, calado ‘Quando ele fica nervoso, não mede a força que tem’
‘Quantos anos você tinha quando começou?’ Micah agora sabia que era seguro perguntar qualquer coisa
‘Depois que minha mãe morreu e viemos morar com ele. Ele...’ Ela fez uma pausa antes de continuar ‘Ele sempre descontava suas frustrações em mim. Acho que sempre que olha pra mim, vê minha mãe. Ele nunca se conformou por ela ter largado ele’
Evie fez outra pausa, mais longa dessa vez. Era como se ela estivesse se preparando para ouvir o que estava para contar. Micah não ousou a interromper, deixou que ela usasse o tempo que precisasse. Eles estavam sentados de frente um para o outro, um em cada ponta do sofá, e ele ouviu atentamente ela contar todas as coisas ruins que o pai faz com ela e os irmãos, mas com ela em especial, desde que eram crianças. Ele a ouviu falar por mais de uma hora, contando historias de quando era pequena, e ia ficando cada vez mais horrorizado. Na cabeça de Micah era impossível de entender como que um pai pode machucar sua própria filha. Não era normal um pai descontar nos filhos sua raiva por ter sido abandonado pela mãe deles.
‘A última vez que ele me machucou, se descontrolou e quebrou meu braço. Foi a gota d’água pra mim’ Sua voz ia morrendo aos poucos ‘Meu avô fazia a mesma coisa com ele, e ele acabou se tornando aquele que sempre detestou. E se eu for como ele? Não quero que meus filhos tenham medo de mim, não quero virar um monstro para eles!’
‘Evie, você não é como o seu pai. As pessoas nem sempre puxam os pais, e isso às vezes é algo bom’
‘Como pode ter tanta certeza?’
‘Porque se eu fosse como os meus, seria um hippie maluco que abandonaria nossos filhos depois que eles nascessem. E eu nunca ia abandonar você e um bebê’
‘Nossos filhos?’ Evie riu da naturalidade com que ele falava ‘O que te faz pensar que vou ter um filho com você?’
‘Porque sei que um dia você vai ceder e se casar comigo’ Ele sorriu ao falar, aquele sorriso que ela tanto gostava
‘Confia tanto assim em si mesmo? Porque você parece muito seguro disso’ Ela provocou
‘Pode estar certa que sim’ Micah falou sério dessa vez e se moveu no sofá, deixando espaço para ela
Evie deitou ao lado dele e ele a abraçou. Naquele momento, ele sentiu que tudo que ela queria era se sentir protegida. E ele prometeu a si mesmo que não deixaria ninguém machucá-la outra vez.
ººº
Johann ouvia atentamente cada palavra da sobrinha do lado de fora, e sua expressão não era de surpresa, mas de ódio. Levantou em silêncio e procurou um cômodo fechado, pegando um telefone.
‘Sofia?’ Disse quando a irmã atendeu ‘Aconteceu. Ela falou’ Ele fitava um porta-retrato na mesa enquanto falava e alisou a foto ‘É a hora de retribuir tudo que Eva fez por nós dois’
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário